
"Onde queres o acto eu sou o espírito e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo e onde buscas o anjo sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói e onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução e onde queres bandido sou herói
Eu queria querer-te amar o amor, construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés e vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou, não te quero (e não queres) como és
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo e onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua eu sou o sol e onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério eu sou a luz e onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro e onde queres coqueiro sou obus
O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal e eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total do querer que há e do que não há em mim
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor"
Caetano Veloso, in "Letra Só"
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